quinta-feira, 16 de julho de 2009

Aforismos - Parte 3: Ou àqueles que não ouvem...

O sono da razão desperta os monstros - Goya

"Ter uma identidade fixa é hoje, nesse mundo fluido, uma decisão de certo modo suicida."
Zygmunt Bauman


E retorno ao conflito engendrado pelo limite evocado na cansada obviedade shakespeariana "ser ou não ser: eis a questão". Deveras conhecido este trecho de Hamlet, dispa-se de seus preconceitos ou conceitos ligados aos pontos de controvérsia comuns no seu cotidiano e ouça-me.
"Ser" em si já carrega uma definição que representa a junção de vários pedaços de vidro de um copo quebrado, como se fosse possível rearranjar sem perceber os vincos, os traços imperfeitos de sua colagem. Se certa vez Cristhiano disse-me que a falta de significado das coisas determinava o suicida, digo que determina a fronteira. O que define se se é isto ou aquilo (lembrança de Cecília) se não existe o "grão localizador" de um fim ou um começo? Não que queira relativizar tudo, mas quando se está diante deste ponto, não se sabe onde está. Tal como disse Riobaldo "O senhor sabe o que o silêncio é? É a gente mesmo, demais." É o eco do silêncio que há em nós que encontramos. Chega-se então, ao ponto em que, se ignorarmos de onte partimos, não sabemos onde estamos. E é nesta encruzilhada de limites que repouso minha mente.
No contexto dessa obrigação automática de dormir-acordar, equivoca-se quem escolhe entre um e outro, vivemos numa interseção de opções. Não há, portanto, quem possa distinguir enquanto dorme o que é o momento ou ausência de si.
Presos estamos ao modus operandi das opções. Se o personagem de Ao Lado do Muro, escolheu estar ao lado do muro, o outro lado tornou-se enigma e fustigação. Esquivar-se das escolhas, ou em outra análise, de suas consequências, seria deveras covarde. Então como dar nome ao momento exato (imediato) à escolha? Dúvida? Hesitação? Iluminação? Tudo parece nada e o nada é suficiente. Como entender o movimento que leva a estagnação no entorno fronteiriço? Nestes tempos de difusão de identidade parece ser mais lúcido "limitar seu círculo cada vez mais e verificar continuamente se você não está escondido fora dele" Kafka já tinha sua solução, embora existam muitos círculos semelhantes e nesta efusão geométrica, facilmente pode confundir-se. Círculos, entretanto, denotam uma harmoniosa forma de limitar-se, neste ponto prefiro a poesia das elipses com seus dois focos e suas infinitas possibilidades.
Por ser de tal forma, intangível, vivíamos numa sucesão de incertezas de um findar-se de um segundo ao parto do próximo instante. Este contínuo de delirante nos foi tirado ao passo que, bípedes, caminhamos. Ignorando nossas diferenças. Mas será que a intensidade do vermelho que vejo é mesma do seu? E será que o que chamo de vermelho, enxergo como tal? Ou aprendi a chamá-lo assim? Entretanto, diferentes que somos, nos comportamos num uníssono social, daí o suicídio de Bauman acerca da "identidade fixa" seja enquanto indivíduo (se somos) ou coletivo representativo. Pendulares que somos, parecemos morcegos pendurados ao contrário, voando de modo incerto, cegos de nosso estado, paradoxo de nosso "ser".
Se a irracionalidade não é nosso privilégio, dormimos.

Aforismos - Parte 2

"Nesta nossa época a única coisa necessária é o supérfluo."

Oscar Wilde

terça-feira, 14 de julho de 2009

Aforismos - Parte 1

"A partir de certo ponto não há mais retorno. É este o ponto que tem de ser alcançado."

Franz Kafka

Need a Rock'n'Roll



"Grow my hair, Grow my hair I am Jim Morrison
Grow my hair, I wannabe Jim Morrison

Here we are with our running and confusion
And I don't see no confusion anywhere"
Radiohead