quinta-feira, 15 de abril de 2010

Do Fumo, da Luz e das Papoulas




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Das Papoulas

“Algum veneno uma vez por outra

é coisa que propicia agradáveis sonhos.

E muitos venenos no fim para morrer agradavelmente”

Friedrich Nietzsche – Assim Falou Zaratustra

Acordei-me morto, acompanhando a manhã do dia seguinte. Foi um expirar calmo, agradável, indolor. Recordo-me apenas de estar sonhando que estava sorvendo, ansioso, Ambrósia das tetas da minha mãe... senti saudades... e... apareceu-me, abruptamente, intervendo no onírico, um jabuti andando linearmente através de uma luz no palco1, observei meu corpo... havia morrido.

Há uma beleza ímpar neste instante... mas não convém explicar.

O velho haveria de passar por situação semelhante pouco tempo depois.

Acordou, afobadamente como em qualquer dia comum, percebeu, obviamente, que eu não havia me levantado, desceu tomou seu café e voltou ao quarto. Aproximou-se do corpo, chutou-o levemente; não houve respostas: chutou-o novamente, só que com mais violência desta vez; meu corpo virou-se: novamente não houve resposta. Sentou-se em frente à janela, observou as papoulas que voltavam a nascer, e fumou seu cigarro.


Saulo Feitosa - Setembro de 2000