quarta-feira, 22 de abril de 2009

Somos Todos Poetas...

Assisto em mim a um desdobrar de planos.
as mãos vêem, os olhos ouvem, o cérebro se move,
A luz desce das origens através dos tempos
E caminha desde já
Na frente dos meus sucessores.

Companheiro,
Eu sou tu, sou membro do teu corpo e adubo da tua alma.
Sou todos e sou um,
Sou responsável pela lepra do leproso e pela órbita vazia do cego,
Pelos gritos isolados que não entraram no coro.
Sou responsável pelas auroras que não se levantam
E pela angústia que cresce dia a dia.

Murilo Mendes

Em homenagem aos meus 27 anos...

quarta-feira, 1 de abril de 2009

Farsa ou "Os martirizados do tempo"




Já não se cabe nas intenções, no gesto acidental, disfarçado, repleto de desinteresse. Volta a si virando-se do avesso com a embriaguez de pensar-se mudo, célero, andante do caminho feito de teus nós. Nunca acorda, tenta alcançar mas acomoda-se no enlace da distância, na ternura da cegueira, na segurança da ausência.
Atado a claustrofobia do incerto - quanta razão permeia a vontade - passo: senta-se. A questão é "plantar-se na própria semente"*, "fugir da palavra pela porta da palavra"*: mas que porta? Que palavra?
Costumava tomar café com os dedos cheirando a cigarro... O entorpecer da realidade, o deitar-se de cansado, o prazer sutil de esconder o olho. Hoje não: intoxicação do pensamento repleto de pedaços, contínuo de tudo arrastando-se.
Somos a farsa de um querer, a herança dos martirizados do tempo de Baudelaire, um momento evitado. Despertar de um dia contrário, de um dia pendendo, caindo.

*Trecho do conto escrito na parede de casa por Cristhiano Aguiar