quarta-feira, 1 de abril de 2009

Farsa ou "Os martirizados do tempo"




Já não se cabe nas intenções, no gesto acidental, disfarçado, repleto de desinteresse. Volta a si virando-se do avesso com a embriaguez de pensar-se mudo, célero, andante do caminho feito de teus nós. Nunca acorda, tenta alcançar mas acomoda-se no enlace da distância, na ternura da cegueira, na segurança da ausência.
Atado a claustrofobia do incerto - quanta razão permeia a vontade - passo: senta-se. A questão é "plantar-se na própria semente"*, "fugir da palavra pela porta da palavra"*: mas que porta? Que palavra?
Costumava tomar café com os dedos cheirando a cigarro... O entorpecer da realidade, o deitar-se de cansado, o prazer sutil de esconder o olho. Hoje não: intoxicação do pensamento repleto de pedaços, contínuo de tudo arrastando-se.
Somos a farsa de um querer, a herança dos martirizados do tempo de Baudelaire, um momento evitado. Despertar de um dia contrário, de um dia pendendo, caindo.

*Trecho do conto escrito na parede de casa por Cristhiano Aguiar

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